sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Peça reflete poesia de Lagarce: MUSIC HALL

LUIZ FERNANDO RAMOS

CRÍTICO DA FOLHA DE S.PAULO

O teatro é também diversão, mas divertir não esgota tudo o que ele pode ser. O espetáculo "Music-Hall" explora as potências corrosivas do entretenimento quando observado das coxias e longe do público. O texto de Jean-Luc Lagarce, que é traduzido e encenado por Luiz Päetow, foi escrito em 1989 e tornou-se uma das peças mais conhecidas entre as criadas pelo dramaturgo e encenador francês. Uma das características de sua dramaturgia é recusar-se a tramar uma história bem delineada, e buscar sempre trazer o leitor ou o público para dentro da situação que as palavras, enunciadas sem contornos nítidos, vão constituindo. O espetáculo intensifica esse traço e abandona o realismo na apresentação dos personagens. A situação dramática proposta é a de uma artista decadente de music-hall que, diante de dois auxiliares -"meninos"-, reflete sobre sua condição de muitos pontos de vista. A opção do encenador foi tripartir a personagem principal em três atrizes, cada uma abarcando um aspecto marcante de suas falas, e manter as vozes dos "meninos" atribuídas a dois atores. Esta alternativa ganhou significado com uma engenhosa articulação de mínimos elementos cenográficos e de iluminação. Além de um corredor e de uma parede descascada, o espaço cênico se arma com três banquinhos aparelhados com alguma luz e uns poucos refletores. São esses elementos, somados a um homogêneo quinteto de talentosos intérpretes, que sustentam os parcos elementos referenciais que o texto de Lagarce oferece. O music-hall é um gênero que pode inspirar glamour e exuberância. Na peça em questão, exploram-se os seus aspectos sombrios, quando, por exemplo, os artistas têm que se apresentar em lugares barulhentos em troca de uma porcentagem do que se consumir no bar. A operação de neutralizar sentidos óbvios, e investir na riqueza poética do texto, resulta na ampliação do contexto do teatro de variedades. Atualiza para os espectadores presentes questões que remetem ao teatro em geral e ao próprio espetáculo em curso. Os atores Donizeti Mazonas e Sílvio Restiffe são discretos, mas brilhantes, em seu sapateado impotente. Gabriela Flores traz a faceta mais enérgica da personagem não nomeada da atriz. Gilda Nomacce alcança momentos sublimes na interação com um banquinho luminoso e Priscila Gontigo abre e fecha o espetáculo com uma fala sussurrada e macia, que se torna cortante ao escancarar a fragilidade dos atuantes diante do escuro e silencioso vazio a que se dirigem. Como diz a personagem, trata-se de um "musical sem música", ou quase isso. O que sobressai é a metáfora de um teatro solitário e sem horizontes, mas que ainda se aguenta ao encarar suas próprias sombras.

MUSIC-HALL
Quando: sábados às 21h e domingos às 19h, até 30/8 Onde: teatro Imprensa, r. Jaceguai 400, Bela Vista, tel. 3241-4203
Quanto: R$ 5 a R$ 10
Avaliação: ótimo

release completo nesse link aqui http://jqz.cv.zip.net/

a temporada se encerra neste fim-de-semana
aguardamos a presença de cada um de vocês

no pântano poético de jean-luc

alagar-se

Recebi esse email e nao conheço quem me encaminhou, mas me senti na obrigaçao de compartilhar.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

24º Festivale



Olá, olá! Onde estão todos?!

Vim dar um alô importante para ficarem espertos e se programarem: começa dia 3 (quinta-feira) a 24ª edição do Festivale em São José dos Campos!

Pra quem nunca foi, é um super evento que traz grupos de várias cidades para apresentar espetáculos e dar oficinas. Esse ano a programação parece estar bem legal, e já começa com coisa boa: o grupo Galpão vai abrir com seu novo trabalho Till, A saga de um herói torto. Esse grupo é muito bom, um dos mais reconhecidos no Brasil, e as peças são bem engraçadas, valhe a pena!



Till

Outra dica é a palestra do Cacá Carvalho. Esse nome é familiar? já ouviu em algum lugar? Pois é, "Jamanta não morreu", lembra? Esse é o cara, e o cara é bom, vale a pena ir na palestra (dia 13) e na peça dele Figurantes (dia 12). No dia 13 também tem o espetáculo Primus, da Boa Companhia. Não vi ainda, mas é muito falado.



Figurantes



Primus

No dia 12 o Paulo Willians (Travessia e Velho Mar) se apresenta com um grupo de São Paulo em Ruas de Barros. Assim como o Paulo, os grupos Caixa de Histórias (dias 8 e 13) e La Cascata (dia 13) são daqui, vamos prestigiar nossos parceiros!


Ruas de Barros

Essas são algumas dicas minhas, mas eu aconselho vocês a se esforçarem para ir ao máximo de peças possíveis, não é sempre que a Fundação Cultural traz tantas coisas bacanas. As oficinas possuem pouquíssimas vagas e tem que correr para se inscrever!

Aqui tem a programação completa:
http://www.fccr.org.br/festivale


É GRATUITO!


Encontro vocês lá!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Teatro ritualistico

Olá pessoal...
Hoje comentarei sobre um exercício interessantissimo que desenvolvemos. Um ritual. Deixo aqui as impressões que tive de maneira compacta pela minha falta de abilidade com as letras. Isto que abaixo é como um flash foi um exercício desenvolvido por cerca de uma hora.

Apagaram-se as luzes do palco, aprendeu-se um ritmo de dança, dançava-se no compasso da mais primitiva expressão humana por nós conhecida. Em pouco tempo o ritmo de todos era um só. Já era hora d'soltarmo-nos por todo o palco no pulso da dança primitiva. E eram índios por todos os lados, com os braços soltos, os olhos a rodar, as pernas a criarem raízes que arrastavam torrões de terra por onde passavam. E veio o suor escorrer pelos corpos que agilmente se cruzavam sem choque. Os corpos todos envolvidos numa nuvem de calor a qual nos fazia escorregar pelo ar de todos aqueles sentimentos acumulados desde muito. Uma orgia energética onde a única regra era manter o pulso. ta ta TUM! ta ta TUM!... E fecharam-se os olhos... ta ta TUM! ta ta TUM!... e baixou-se o pulso ta ta tum... ta ta tum... já não existiam seres humanos naquele palco. Já não existia palco! Eram apenas reflexos sensoriais sentidos por cada corpo da maneira a qual identificam-se e aprenderam a identificar com as energias próprias e alheias. Abrem-se os olhos e o caldeirão volta a rodar. Braços ao ar, olhos a rodar, pernas a arrancar torrões de terra do chão. E agitam-se as cordas vocais em berros grutuais. E o corpo todo berra, e o transe aumenta, é quase sexo! é quase Deus! é quase um corpo de mulher doce, quente, com aquele gostoso toque suave e húmido que nos encaixa feito chave e fechadura. Sentem-se os odores, e são cheiros fortes, os corpos a faiscar de vida. E finda-se o exercício. Os rostos já não são os mesmos.
Os sinais pscicologicos e físicos do dia-a-dia já não se escondem por detrás de nenhuma mascara.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Vollmond







Olá, pessoal!
Parece que estamos crescendo! No começo tímidos, mas aos poucos vamos ganhando força...

A Mariza fez um comentário com uma sugestão bem interessante: que tal um pouco de poesia? A princípio eu imaginava esse espaço como um diário de trabalho, pra fazer um registro objetivo das oficinas. Mas pensei na sugestão e acho que devemos nos expressar da maneira que cada um escolher, sobre seu próprio ponto de vista, seja contando uma história, escrevendo um poema, fazendo um desenho...

Eu não quero que o blog fique parado por tanto tempo, só com um post por semana (toda terça). Por isso pensei na idéia da Mariza, e resolvi escrever sobre algo que deixe a imaginação livre e inspire o trabalho do ator.
Meu grupo pesquisou muitas coisas pra fazer o espetáculo Velho Mar, e uma das coisas em que mais focamos, foi o corpo. Queríamos contruir um repertório rico de gestos e ações que estivessem além da mimese comum (imitação dos gestos cotidianos, "normais"). Assistimos várias coisas no youtube, e encontramos um vídeo incrível da Pina Bausch. Ela é uma coreógrafa alemã que morreu recentemente, e criou um estilo de dança bem original, a gente consegue ver uma relação com o teatro e a improvisação nos movimentos. As fotos que coloquei são do espetáculo Vollmond, e como muitos dos trabalhos dela, expressam um retrato da relação entre o homem e a mulher. Escolhi esse vídeo para compartilhar no blog porque quando assisto me dá vontade de dançar, de fazer movimentos aleatórios, sem sentido, só para ter a sensação de libertação. Espero que gostem!

Pina Bausch:
Vídeo:
Abraços

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

18 de agosto

Olá

Acho que primeiro devo agradecer a iniciativa da nossa prezada amiga Iolanda!
Que me chegou a comentar a ideia, amei, mas não imaginei que fosse se consolidar desta maneira franca e rápida. Iolanda muito, muito, obrigado! tu é linda!

Bem... nossa ultima oficina aconteceu dia 18 de agosto.
E se não me falhar a memória, abaixo deixo os relatos objetivos da mesma;

-Em circulo devidamente espaçado trocamos ideias gerais e pessoais brevemente.

-Começamos com um breve aquecimento vocal.

-Formamos outro circulo num espaçamento quase nulo de forma que estávamos praticamente colados uns aos outros. Neste circulo fizemos outro breve aquecimento e cantamos carreiro.

-Andamos pelo espaço e respondemos aos comandos da Mariza (deitar, agachar, cair, etc).

-Andávamos então pelo espaço de olhos fechados.

-A um de nós era solicitado cantar carreiro e aos outros guiados pela voz aproximar-mo-nos do primeiro (todos ainda de olhos fechados)

-Fizemos um exercício no qual agarrávamos uns aos outros, apenas aos solicitados, de maneira que nossos corpos estivessem sustentados por tais apoios (agarrões nas roupas, etc). Agarrados uns aos outros nas roupas, braço, cabeça, e de corpo solto. Ao solicitar o nome de algum que estava em jogo, este deveria soltar-se do apoio, causando assim mudança no resto das articulações. Como um efeito domino, no qual nem sempre todos iam ao chão, e nos causou boas teias coletivas.

-Formamos então uma fila vertical no palco. De maneira ordenada andávamos a frente e caiamos no chão conforme solicitados. O exercício foi repetido diversas vezes até ganhar liberdade. Nota que em muitas vezes outros corpos barravam o caminho de maneira a fazer o sujeito cair assim que barrado.

-Fizemos então a leitura da obra que será nossa matéria-prima para o espetáculo de conclusão de oficina. "Espera-me que ainda sou teu" - se não me falha a memória.


Creio que seja isto... minhas opiniões pessoais expressarei nos comentários.
Isto tudo é muito lindo!
Beijos e abraços... agora é só fazer acontecer ;D

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Pulsar, movimento e ritmo

Quem sou?
De onde venho?
Eu sou Antonin Artaud
E basta dizê-lo,
Como sei dizê-lo,
Imediatamente
Vereis o meu corpo atuar,
Voar em estilhaços,
E em dois mil aspectos notórios
Refazer
Um novo corpo
Onde nunca mais
Podereis
Esquercer-me.

(ARTAUD - Eu, Antonin Artaud. op. cit. p.111)
É com essa invocação mágica de Artaud que risco as primeiras palavras deste blog e selo um pacto com os que participarão dele. Aqui, a experiência do palco será compartilhada pela palavra e nessa partilha o ator poderá observar cada um de seus "estilhaços" e escolher de que maneira irá juntá-los para formar um novo ser, uma nova criatura. Aqui, seremos criador e criação.

Proponho que cada postagem contenha duas partes:

a. Uma descrição curta e objetiva do que foi feito naquele dia de oficina, desde o aquecimento até o encerramento. Isso vai funcionar como um diário de trabalho, que mais tarde poderá ser relido (e servirá como referência para verem o quanto evoluiram).
b. Uma reflexão sobre os exercícios sob o ponto de vista individual (como me senti, o que gostei, o que não gostei...) e coletivo (sintonia do grupo, compreensão do que tava sendo feito, etc). Aqui podemos puxar outros assuntos que complementem essa reflexão, sejam imagens, vídeos, poesias, experiências pessoais, etc.

Eu, como um olhar de fora e como alguém que esteve ausente de todo o processo até agora, vou dar início à primeira seção, mas só vou cumprir a primeira parte, porque não participei do exercício.

11 de agosto
- Fazemos uma roda, estabelecemos contato atraves do olhar, pequeno diálogo informal sobre nosso dia
- Nos movemos pelo espaço de acordo com o ritmo marcado pela música que cantamos (Carreiro)
- Descrevemos o que vemos, deitados no chão
- Deitamos uns sobre os outros e descrevemos como nos sentimos
- De olhos fechados, nos arrastamos em direção um ao outro até formarmos uma célula
Improvisações:
- a tempestade e o porão do navio
- mata fechada
- deserto
- abismo
- pelotão de fuzilamento (ditadura/nazismo)
- cia. de teatro vai criar espetáculo que fale sobre a liberdade e é reprimida por soldados (grupo dos militares, grupo dos atores e direção do Leandro)
- julgamento do oficial (Marcelo)
-fazemos uma roda e discutimos o exercício
Cenas:
- cada grupo ensaia sua cena (Romeu e Julieta)
- as cenas se desenvolvem no baile
- discussão sobre o texto a ser montado
-ENCERRAMENTO.
Ao invés da parte b, deixo uma pergunta para refletirem.

"O que é a essência do teatro? o que é aquele fator único que decide o fato de algo ser teatral? o que permaneceria se eliminássemos do teatro o que não é teatro (a literatura, as artes plásticas, a atualidade, as teses, o copiar a realidade)? qual elemento não poderia ser retomado por qualquer outro gênero artístico (por exemplo, pelo cinema)?"

(O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski 1959-1969, p.40)

E uma outra pergunta que pode ajudar a responder:
No pelotão de fuzilamento, em algum momento vocês sentiram medo? sentiram raiva? sentiram dor? Se sentiram dor, medo, raiva, então por que não pararam o exercício? O que era real?
Pensem nisso. Mas lembrem-se de que não existe a resposta certa, só existe a resposta em que vocês acreditam.
Porque aqui, a palavra é do ator.

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