quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Pulsar, movimento e ritmo

Quem sou?
De onde venho?
Eu sou Antonin Artaud
E basta dizê-lo,
Como sei dizê-lo,
Imediatamente
Vereis o meu corpo atuar,
Voar em estilhaços,
E em dois mil aspectos notórios
Refazer
Um novo corpo
Onde nunca mais
Podereis
Esquercer-me.

(ARTAUD - Eu, Antonin Artaud. op. cit. p.111)
É com essa invocação mágica de Artaud que risco as primeiras palavras deste blog e selo um pacto com os que participarão dele. Aqui, a experiência do palco será compartilhada pela palavra e nessa partilha o ator poderá observar cada um de seus "estilhaços" e escolher de que maneira irá juntá-los para formar um novo ser, uma nova criatura. Aqui, seremos criador e criação.

Proponho que cada postagem contenha duas partes:

a. Uma descrição curta e objetiva do que foi feito naquele dia de oficina, desde o aquecimento até o encerramento. Isso vai funcionar como um diário de trabalho, que mais tarde poderá ser relido (e servirá como referência para verem o quanto evoluiram).
b. Uma reflexão sobre os exercícios sob o ponto de vista individual (como me senti, o que gostei, o que não gostei...) e coletivo (sintonia do grupo, compreensão do que tava sendo feito, etc). Aqui podemos puxar outros assuntos que complementem essa reflexão, sejam imagens, vídeos, poesias, experiências pessoais, etc.

Eu, como um olhar de fora e como alguém que esteve ausente de todo o processo até agora, vou dar início à primeira seção, mas só vou cumprir a primeira parte, porque não participei do exercício.

11 de agosto
- Fazemos uma roda, estabelecemos contato atraves do olhar, pequeno diálogo informal sobre nosso dia
- Nos movemos pelo espaço de acordo com o ritmo marcado pela música que cantamos (Carreiro)
- Descrevemos o que vemos, deitados no chão
- Deitamos uns sobre os outros e descrevemos como nos sentimos
- De olhos fechados, nos arrastamos em direção um ao outro até formarmos uma célula
Improvisações:
- a tempestade e o porão do navio
- mata fechada
- deserto
- abismo
- pelotão de fuzilamento (ditadura/nazismo)
- cia. de teatro vai criar espetáculo que fale sobre a liberdade e é reprimida por soldados (grupo dos militares, grupo dos atores e direção do Leandro)
- julgamento do oficial (Marcelo)
-fazemos uma roda e discutimos o exercício
Cenas:
- cada grupo ensaia sua cena (Romeu e Julieta)
- as cenas se desenvolvem no baile
- discussão sobre o texto a ser montado
-ENCERRAMENTO.
Ao invés da parte b, deixo uma pergunta para refletirem.

"O que é a essência do teatro? o que é aquele fator único que decide o fato de algo ser teatral? o que permaneceria se eliminássemos do teatro o que não é teatro (a literatura, as artes plásticas, a atualidade, as teses, o copiar a realidade)? qual elemento não poderia ser retomado por qualquer outro gênero artístico (por exemplo, pelo cinema)?"

(O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski 1959-1969, p.40)

E uma outra pergunta que pode ajudar a responder:
No pelotão de fuzilamento, em algum momento vocês sentiram medo? sentiram raiva? sentiram dor? Se sentiram dor, medo, raiva, então por que não pararam o exercício? O que era real?
Pensem nisso. Mas lembrem-se de que não existe a resposta certa, só existe a resposta em que vocês acreditam.
Porque aqui, a palavra é do ator.

13 comentários:

  1. Aqui vai meu depoimento .Apesar de eu estar quase sendo fuzilada pelo meu próprio irmão oficial Marcelo meu sentimento foi de revolta por ele ter matado um inocente o ator Guilherme,lagrimas rolaram em meu rosto mas não tive vontade de chorar,enquanto a dor eu estava tão entredita que nem senti eu não pedi pra parar pois a vontade era de estar no palco o lugar onde eu realmente me encontro como pessoa.
    Tenho só agradecer por esse espaço do ator ,conheci a Iolanda que é uma graça de pessoa ,muito sensivel e amavel .Deixo aqui um abraço a todos atores e atrizes ou amante dessa arte.

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  2. Bom Iolanda, à sua pergunta eu respondo sinceramente que senti dor, medo, raiva, vontade de sair correndo dalí! Mas não pude, pois aquilo era real para mim...estava realmente acontecendo. como vou parar um acontecimento?Estava "rolando", meu sangue estava fervendo... Todos esses sentimentos, eu nunca tinha sentido dessa maneira, era como estivesse sentindo a dor de outra pessoa... Foi muito real!!

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  3. Achei interessante o exercicio. O Marcelo estava realmente encarnado! ehehe
    Mas não senti nada, já ouveram outros exercicios mais simples, em que eu de fato senti ou acho que senti a vida da personagem. Apesar da magica e realidade não sei bem explicar. Talvez coisa do dia, talvez não. Sinto que o teatro deve ser feito sem compromiso. Pra mim teatro deve ser liberdade e sendo assim deve ser livre ao maximo. Percebo que quando penso no teatro como algo demasiado sério não consigo dedicar-lhe com mesma potencia de quando estou desapegado.
    abraços...

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  4. Cara, a imaginação rolou soltaaa!!!
    Pude sentir a areia nos olhos, o vento, a mata e seus ruídos... que medoo!! rs

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  5. Que legal esses depoimentos!!

    é muito interessante pensarmos que estar em cena com raiva, chorando de revolta ou de medo traz uma sensação muito boa. Como a Eliane disse, é onde queremos estar: chorar, ter medo, sentir raiva é estar vivo.

    E é aí que tá a mágica: o teatro é vivo. A Katia disse que foi muito real, mas ali ninguém era soldado, a ditura acabou há anos, não tinha nenhuma arma no palco. Então o que fazia parecer tão real? Os sentimentos. E eu digo mais: no teatro a única coisa real são os sentimentos. O resto é invenção.

    Eu achei mto legal o comentário do Guilherme, mto mesmo. Primeiro por ser honesto consigo mesmo e dizer que não sentiu nada. Quando ele fizer uma cena que seja mto verdadeira, pode comparar com o dia que foi falsa e tentar entender qual é o caminho que faz ele mergulhar no conflito. Segundo por esse negócio de "levar o teatro a sério".

    Cara, esse é um conflito que passo sempre. Acho que eu levava muito a sério, queria ser verdadeira, parecer real, conseguir me conectar com a personagem, e na verdade o teatro não está interessado nisso... o teatro é antes de tudo um jogo, um jogo de ilusão, em que o ator engana o público. O barato do teatro é essa liberdade que o Gui falou, de experimentar, e viajar, mas sem se preocupar em chegar em algum lugar.

    abraços!!

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  6. Muito legal trocar experiencias desta maneira. Havia comentado no outros post mas é algo referente a esta semana então apaguei de lá e aqui vai...

    Quando foi solicitado que fingissemos ser uma companhia teatral, imediatamente, todos parecemos ter perdido o pudor. Ao meu ver pelo faz de conta de sermos nós mesmos. Todos continuaram sendo si, entretanto, com as personalidades acentuadas e aparentemente mais a vontade. Livres! de alguma maneira...
    Me pergunto porque isto ocorreu. Ao menos comigo, porque? será a insegurança tão grande? ou o pudor? ou as cicatrizes sociais? ou as regras de contuda moral da sociedade? ou o medo? ou a falsidade em si escondendo algum suposto mal?
    enfim... alguem tem alguma sugestão?
    abraços...

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  7. Interessante esse questionamento... e difícil de entender.

    Acho que quando estamos no palco, precisamos de um motivo pra estar lá, precisamos criar uma identidade, vestir uma máscara. Se a Mariza tivesse dito: "Seja você mesmo" ao invés de uma cia de teatro, as coisas seriam bem mais complicadas. Como é meu jeito de andar natural? Meu jeito de falar natural? Meu jeito de sorrir? Vocês tentariam interpretar vocês mesmos e não chegariam a lugar nenhum.

    No dia-a-dia a gente veste muitas máscaras também e é difícil sabermos quem realmente somos. Mas quando o comando era "vocês são uma cia de teatro", cada um ficou livre pra assumir a máscara que quisesse, sem o risco de ser julgado pela sociedade. Afinal, aquele era um personagem, e não vocês mesmos. Talvez cada um foi quem gostaria de ser naquela situação.

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  8. Como seres sociais que somos. Seres humanos. Sejamos todos atores o tempo todo... Pra nos expressar... Afinal poucas pessoas tem o poder de ler mentes! ehehe. Essas mascaras que num primeiro momento eu julgo... creio que sejam agora algum tipo de salvação, pra não ser exagerado, algum tipo de ferramenta.

    O que difere a mentira do bom senso? ou a sinceridade da verdade? afinal ninguem conhece a verdade absoluta...

    Talvez a unica verdade seja o amor, e o amor, liberdade.
    abraços...

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  9. Bom, decerto os sentimentos são reais.
    Por isso temos além do amor, o ódio, a tristeza, alegria...nos sentimos repremidos também! E todos eles fazem parte da nossa vida, impossível não tê-los.
    Pra mim, a sinceridade não quer dizer que seja a verdade. Podemos ser sinceros sobre uma mentira, por isso o teatro...rsrs*Acho que temos de ser sinceros com nossos sentimentos, mas pude perceber que podemos controlá-los muito Bem também!

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  10. Bom, decerto os sentimentos são reais.
    Por isso temos além do amor, o ódio, a tristeza, alegria...nos sentimos repremidos também! E todos eles fazem parte da nossa vida, impossível não tê-los.
    Pra mim, a sinceridade não quer dizer que seja a verdade. Podemos ser sinceros sobre uma mentira, por isso o teatro...rs* Acho que temos de ser sinceros com nossos sentimentos, mas pude perceber que podemos controlá-los muito Bem também!Enganá-los...

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  11. Bom...eu penso que a essência do teatro seja o sentimento; e o sentimento é impresso em nosso corpo por meio de sensações, nas quais expressamos às pessoas aquilo que queremos que elas vejam. Algo que não necessita de muitas palavras, de figurinos suntuosos e que é mais do que "copiar a realidade" pura e simplismente, num geral, e sim, compreender cada pequeno universo (no caso, a mente, as sensações, os sentimentos de cada personagem), nos aproximarmos, nos tornarmos íntimos daquela suposta realidade particular, para assim, representarmos menos e vivermos mais tudo aquilo. É algo maravilhoso poder vivenciar coisas que talvez jamais faremos fora dos palcos, aumenta o nosso campo de visão, nos faz questionar mais, enxergarmos melhor; não nos põe a par da 'verdade absoluta' (que nem deve existir, rs), mas nos distancia da mentira, da cegueira a que estamos habituados, devido a diveeersos fatores sociais...

    -Naquele exercício do pelotão de fuzilamento, passou um turbilhão de coisas pela minha mente, e durante todo o tempo foi real...mas o q eu achei esquisito é que, as vezes era a personagem que estava lá, sofrendo com toooda aquela subjulgação; e outras era eu mesma (mas como se estivesse "assistindo" tudo aquilo acontecer). Foi bizarro, angustiante em algumas horas, hauhsauehasueh

    Acho que o que fez com que a sensação fosse tão real (falo por mim, sem generalizar), foi a liberdade mesmo...me entregar sem ter pensamentos prévios de como seria o resultado (e é o que costumo fazer, infelizmente, pq acho q essa preocupação com o "como vai/ deve ficar" é negativa e me limita muito) fez com q eu estivesse inteiramente ali...e é isso.

    Beijão pra todos!

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  12. A sensibilidade é algo maravilhoso quando nos permitimos ser guiados por ela. O jogo teatral é uma descoberta incrível, nunca sabemos onde vai terminar ou como começa, sempre procuro ver para além daquilo que meus olhos apenas possa ver, porque como já dizia Fernando Pessoa “a nossa única riqueza é ver”.
    Existe uma criança dentro de nós querendo brincar de trocar segredos e compartilhar tal felicidade, onde tudo nos sonhos é valido, o irreal passa a ser real se há vida em nossos pensamentos.

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